A história dos polêmicos treinadores Aero Boero

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Mais de 350 aviões Aero Boero vieram para o Brasil, entre 1987 e 1994, passando a integrar as frotas da maioria dos Aeroclubes brasileiros. Foto: Portal do Aviador

 

A Aero Boero S.A. foi uma empresa argentina, fabricante de aviões leves, empregados principalmente no treinamento de pilotos e também na aviação agrícola. Foi fundada em 1956 pelos irmãos Hector e Caesar Boero, na cidade de Morteros, província de Córdoba. Em função de vários fatores, a partir do ano 2000, passou a se dedicar à fabricação de peças e manutenção de aeronaves, antes de encerrar definitivamente as atividades.

A primeira denominação da empresa foi Aero Talleres Boero, dedicando-se a manutenção, realizando serviços para a aviação geral e agrícola. Inúmeros dos trabalhos eram tão minuciosos que em muitos casos era mais simples construir a aeronave do zero – ideia que levou os irmãos a pensarem em projetar e construir suas próprias aeronaves.

 

Aero Boero AB-95, versão inicial, equipada com motor Continental C90-12F, de 95 hp. Foto: https://www.airliners.net/

 

Versões do Aero Boero:

  • Aero Boero AB-95
  • Aero Boero AB-115
  • Aero Boero AB-150
  • Aero Boero AB-180
  • Aero Boero AB-210
  • Aero Boero AB-260
  • Aero Boero AB-260AG

 

Aero Boero no Brasil

Em 1986, o hoje extinto DAC – Departamento de Aviação Civil (atualmente ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil) estava preocupado com a situação da frota de aeronaves de instrução dos aeroclubes brasileiros, constituída, em sua maior parte, de aviões construídos nas décadas de 40, 50 e 60. Embora bastante apreciado pelos pilotos, os veteranos Paulistinhas, já obsoletos e incapazes de suprir as necessidades dos Aeroclubes. Não tinham sistema elétrico, rádios ou qualquer recurso mais avançado, o que os deixavam cada vez mais restritos de voar no já congestionado tráfego dos aeroportos brasileiros.

Assim teve início a saga do Aero Boero no Brasil. O DAC, na época, enviou 6 experientes instrutores de voo civis e dois oficiais da Força Aérea Brasileira para avaliar uma aeronave disponibilizada pelo fabricante.

Entre os anos de 1987 e 1994 o Governo Federal adquiriu 366 aeronaves Aero Boero – segundo o Registro Aeronáutico Brasileiro foram 306 do modelo AB-115 e 60 do AB-180 – para equipar e reforçar as frotas dos Aeroclubes do país. As aeronaves pertencem à União e estão disponíveis aos operadores sob regime de cessão de uso. Muitos estão parados, com os CA – Certificados de Aeronavegabilidade vencidos ou avariados por acidente ou incidente.

Outros continuam firmes e fortes, na tarefa de formação, sendo uma aeronave odiada por alguns, mas adorada por muitos, também, por ser uma aeronave que exige muito, desde o táxi, e principalmente no pouso, por se tratar de um avião com trens convencionais, mas forma muito bem os alunos, dando um excelente “pé e mão”.

Há quem dia que, quem aprendeu a voar num Boero, opera facilmente um triciclo. Já o contrário, não é garantido!

O AB-115 são, em sua maioria (os que sobrevivem) empregados na formação inicial, no curso prático de PPA – Piloto Privado de Avião. Já o seu “irmão” mais potente, AB-180, apesar de também ser utilizado na instrução inicial, por ter uma performance superior ao 115, são bastante apreciados como rebocadores de planadores, nos próprios Aeroclubes e Clubes de Voo a vela, já que possuem o necessário gancho na cauda e folego, para tal atividade.

 

Aero Boero AB-115

Trata-se de uma aeronave monoplano, com asas altas, feitas de liga de alumínio reforçado e as pontas, de fibra de vidro Já a fuselagem e empenagens são revestidos em tela com tratamento anticorrosivo, sendo sua estrutura de tubos de aço soldados.

Os assentos, dois, são em configuração tandem, ficando o aluno no assento dianteiro, e o instrutor no assento traseiro.

Atrás do assento traseiro há um compartimento para bagagens, com uma capacidade de no máximo 25 kg, ideal para levar as pastas com a documentação da aeronave, bem como pequenos volumes, garrafas de água, bastante úteis durante as navegações, na formação de novos pilotos. O acesso dos ocupantes é por uma única e larga porta, no lado direito da cabine.

Os comandos de voo são duplicados, sendo o manche central, manete de potência, pedais do leme e do freio mecanicamente conectados aos do assento traseiro.

 

AB-115 PP-GFD (S/N 239B, de 1992) fotografado em voo em 2014. Foi entregue novo ao Aeroclube de Santa Catarina, onde está até hoje. Foto: Portal do Aviador

 

O AB-115 é equipado com flaps, de quatro posições (0º, 15º, 30º e 45º), e são atuados mecanicamente, por uma alavanca na parte superior esquerda da cabine.

Já seu grupo motopropulsor, um motor aspirado, carburado, Lycoming O-235-C2A, com 115 hp’s, com a hélice Sensenich, bi-pá, metálica, passo fixo. A capacidade de combustível é de 115 litros, sendo 110 litros utilizáveis, distribuídos em dois feitos de alumínio, o que possibilita uma autonomia de voo, de cerca de 4 horas, já que seu consumo médio gira em torno de 24, 25  l/h.

Os trens de pouso são do tipo convencional. Cada uma das rodas do trem principal é fixada em três pontos: duas juntas articuladas, e um amortecedor. As rodas são feitas de liga de alumínio e magnésio, equipadas com freios independentes atuados hidraulicamente.

 

O AB-115 não possui freio de estacionamento, o que obriga sua tripulação a calçá-lo, quando estacionado. Acima, o PP-GNT (S/N 330B, de 1993), do Aeroclube do Paraná. Foto: Portal do Aviador

 

Excelente treinador convencional! AB-115 PP-GFD, do Aeroclube de Santa Catarina, iniciando a decolagem. Observem os flaps, em posição 15º. Foto: Portal do Aviador

 

Aero Boero AB-115 em algum ponto da área de instrução do Aeroclube de Santa Catarina. Foto: Portal do Aviador

 

Já no quesito instrumentos, o AB-115 é equipado com o básico e estes estão certificados, todos, para VFR diurno.  Fazem parte do painel uma bússola, velocímetro, altímetro, VSI e coordenador de curvas. Os instrumentos de motor são um tacômetro, dois instrumentos para pressão e temperatura do óleo e um amperímetro para o alternador. Há um rádio VHF e um transponder.

 

Painel básico do AB-115. Foto: Portal do Aviador

 

Aero Boero AB-180

O AB-180, ou ”Boerão”, como também é conhecido nos Aeroclubes, é substancialmente uma versão melhorada e mais potente do AB-115. Está equipado com motor Lycoming O-360-A1A de 180 hp’s, e por aqui, além da instrução, é utilizado principalmente no reboque de planadores. É muito importante lembrar, que, apesar da capacidade da aeronave para voos de instrução, o reboque de planadores, por segurança e pelo CG da aeronave, é feito por só um ocupante e este, no assento dianteiro.

 

Atividade que o 180 executa muito bem: reboque de planadores. Foto: Portal do Aviador

 

Largando o cabo instantes antes do pouso! Foto: Portal do Aviador

 

Iniciando reboque! O AB-180 tem uma janela adicional, após o bagageiro que há atrás do segundo assento, que facilita a observação, durante os reboques, aumentando a precisão e segurança na operação. Foto: Portal do Aviador

 

O Aero Boero AB-180 PP-HSX do Aeroclube de Bauru, localizado numa região bastante propícia à pratica de voo a vela. Foto: Portal do Aviador

 

Abaixo, uma caixa de dados das aeronaves AB-115 e AB-180, os modelos que operam no Brasil:

 

 

Acesse também: https://aeroboero.com/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Aero_Boero

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