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Cultura Aeronáutica

O jato mais antigo em atividade no mundo

Voando há mais de 50 anos, Boeing 707 opera hoje como aeronave presidencial do Congo
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Voando há mais de 50 anos, Boeing 707 opera hoje como aeronave presidencial do Congo
Marcelo Magalhães

Depois de ter chegado à Florida em agosto de 2010, para manutenção, onde foi pintado com um padrão de cores imitando um dos protótipos do Boeing 787, o ‘CLK tomou o rumo da República Democrática do Congo, onde opera como aeronave presidencial do Sr. Joseph Kabila.
Além de ser um fato por si só já especial, por tratar-se de um voo com um Boeing 707, dos quais restam em atividade pouco mais de 60 unidades, essa célula em especial merece destaque.
 
Trata-se, com efeito, do jato comercial mais antigo ainda em atividade no mundo! E mais: é um dos raros 707 da versão ‘138 dos quais foram fabricados apenas 13 exemplares, todos para a australiana QANTAS. 
 
O ‘138 é uma versão “long range” da série ‘120 (a primeira versão do 707) e com ele a Boeing atendeu aos requisitos da QANTAS, que necessitava de uma aeronave de longo alcance. Para tanto, tomou a fuselagem da versão ‘120, encurtou-a em 3,05m para diminuir o peso vazio operacional e adicionou um tanque de combustível na seção central da fuselagem, aumentando a capacidade total de 51 mil para 65 mil litros.
 
Mencione-se que outro ‘138B, ainda em atividade, é o famoso N707JT, do ator John Travolta, pintado nas cores antigas da QANTAS. Entretanto, o ‘707JT é bem mais “novo” do que o 9Q-CLK, tendo sido fabricado em 1964.
 
O VH-EBG com pintura especial alusiva aos 40 anos da QANTAS. Notar a deriva original, de altura menor, bem como os motores jato puro PW JT3-C6, substituídos depois pelos turbofan PW JT3D. (Foto: Qantas)

Com o seu “roll out” da fábrica de Renton em 24 de julho de 1959 e primeiro voo em 08 de setembro daquele mesmo ano, o 9Q-CLK foi apenas o 64º 707 da linha de produção e tem, portanto, mais de 54 anos de atividade! Nada mal para uma aeronave pressurizada…

 
Agora registrado G-AWDG, o s/n 17702 é visto nas cores do seu segundo operador a British Eagle

Registrado como VH-EBG e recebendo o nome de batismo “City of Hobart”, operou pela flag carrier australiana em voos de passageiros, de outubro de 1959 até janeiro de 1968, quando foi vendido para British Eagle Airways, que o utilizou em voos charter desde o Reino Unido para a Europa continental e o Caribe. Após a liquidação da empresa, foi operar para a Laker Airways, em configuração única de 158 passageiros. Nessas duas companhias britânicas utilizou sempre a matrícula G-AWDG.

 
O Boeing 707 já no padrão de cores da Laker Airways

Em 1978, o veterano foi registrado N600JJ e adquirido pela Charlotte Aircraft e transformado em aeronave VIP, tendo ido voar em 1981 para o Xeique saudita Abdallah Baroom.

 
Agora transformado em aeronave VIP, com a instalação de uma APU, nas chamativas cores quando voou para o Xeque Baroom. (Foto: Ron Cuskelly Collection)

Em agosto de 1987, foi vendido para a Skyways Aircraft Leasing e quatro meses depois foi registrado como N707KS. Um fato interessante é que a Skyways era de propriedade do Consórcio Aviation Management, no qual o Xeique saudita Salem Bin Ladem (irmão mais velho de Osama Bin Ladem) tinha uma participação e era o real “dono” do avião nessa época.

 
Mas a relação mais duradoura dessa “avis rara” começaria em maio de 1998, quando foi vendida para o governo da República Democrática do Congo (DRC) e registrada 9Q-CLK. As duas últimas letras eram as iniciais de Laurent Kabila, então presidente do país, até ser assassinado em 2001, quando foi substituído por seu filho, Joseph Kabila, até hoje no poder.
 
Passando a maior parte do tempo em um hangar em Kimnshasa, o ‘CLK foi visto em Lanseria, África do Sul, em agosto de 2007, pintado em cores marrom e creme, passando por uma reforma do seu luxuoso interior VIP, com tripulação composta por ex-pilotos da companhia congolesa Hewa Bora Airways.
 
Finalmente como 9Q-CLK, em posse do presidente Joseph Kabila, da República Democrática do Congo. (Foto: Ian Malcolm / AFAVIA)

A próxima grande movimentação do ‘CLK ocorreu em agosto de 2010, quando surpreendentemente foi visto em Miami, onde iria passar por uma grande revisão. A estada na Flórida foi bastante demorada. Aparentemente, a falta de peças e pagamentos pontuais por parte do governo congolês, fez com que a manutenção programada fosse suspensa e apenas parcialmente cumprida. Em janeiro de 2011, o avião foi visto sem motores, fora do hangar, com cores semelhantes de um dos protótipos do 787, em curvas de azul escuro e azul claro, com um grande “707” pintado na cauda.

 
O 9Q-CLK, visto já em Miami, em dezembro de 2011, sem motores e nas cores “Dreamliner”. (Foto: Victor Lopez)

Em 10 de setembro daquele ano, o 9Q-CLK efetuou o primeiro voo após mais de um ano desde sua chegada em Miami. Aparentemente, vários problemas foram encontrados e a aeronave retornou ao aeroporto. Depois de mais um ano de reparos, realizou mais três voos testes entre o final de 2012 e início de 2013. No primeiro, um duto do ar-condicionado rompeu-se e a aeronave começou a perder pressurização. 

 
No segundo teste, efetuado em 15 de janeiro de 2013, o sistema antiskid do freio das rodas falhou, levando ao estouro dos pneus no pouso. A terceira tentativa acabou prematuramente, já que um dos motores entrou em pane. Mesmo diante de tantos problemas, uma decisão foi tomada de levar a aeronave para Kinshasa, obtendo-se uma autorização da FAA (Federal Aviation Administration) para um único voo de ferry para a África.
Assim, no dia 26 de janeiro de 2013, o clássico cinquentão partiu definitivamente para sua casa, de Miami para a capital congolesa, escalando em Natal e Accra (Gana). Veja abaixo um vídeo feito durante o táxi para decolagem.