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Aerotrópolis invadem o mundo

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As chamadas ‘cidades-aeroporto’ têm atraído quantias bilionárias de investimento, transformando cidades em grandes centros de bens e serviços

Pedro Rosas PortaldoAviador.com

Imagine uma cidade construída ao redor de um aeroporto, que ofereça ao mundo dos negócios uma rápida conectividade com fornecedores, clientes e parceiros, em nível nacional ou internacional. Embora ainda não existam no dicionário, mais de 100 aerotrópolis se tornaram realidade no mundo, de forma planejada ou espontaneamente.

O conceito de um aeroporto capaz de transformar a dinâmica de uma região tem atraído investimentos bilionários, fazendo a revista TIME escolher a aerotrópolis como uma das “10 ideias que mudarão o mundo no século 21”. Afinal de contas, qualquer aeroporto pode se transformar no centro de uma cidade, com todos os tipos de serviço.

“A era do instante, com viagens que favoreceram a ubiquidade, escalas de trabalho de 24 horas, sete dias por semana e cadeias globais de suprimentos, exigirá uma reconfiguração radical. As cidades deverão ocupar o entorno do aeroporto em círculos concêntricos de zonas comerciais e residenciais”, escreveu John Kasarda, mentor do conceito e autor do livro “Aerotrópolis: o modo como viveremos no mundo” (DVS Editora, 2013).

A realidade brasileira é reprovada por Kasarda. “Só a China vai investir US$ 240 bilhões em aerotrópolis nos próximos cinco anos. Ásia e Oriente Médio têm uma visão diferente da brasileira. Enxergam os aeroportos como ativos de infraestrutura primária, enquanto no Brasil, os aeroportos são vistos muitas vezes como ameaça ambiental”.

Para o professor, o terminal de Schipol, em Amsterdã, é a mais bela amostra de uma aerotrópolis desenvolvida. Localizado a 20 minutos do centro da cidade, Schipol possui, além do terminal em si, comércio expandido, prestadoras de serviço, indústrias e 16 escritórios de grandes empresas, entre eles o da Microsoft, a um quarteirão do aeroporto.

Próximos também estão os parques industriais e clusters logísticos. Grandes bancos, como ABN Amro Bank e AIG, ficam a seis minutos do aeroporto. São mais de mil multinacionais que fizeram de Schipol um dos principais centros de negócios da Europa. Entre outras cidades exaltadas por Kasarda, estão Hong Kong, Incheon (Coreia do Sul), Dubai, Chicago, Dallas-Ft Worth, Washington Dulles e Memphis.

aeroporto-de-confinsConfins – a aerotrópolis brasileira

Professor da Universidade de Carolina do Norte e consultor do governo de MG desde 2004 (para implementação da primeira aerotrópolis brasileira), o escritor John Kasarda voltou a Belo Horizonte em meados de 2014. Nesta oportunidade para convocar a iniciativa privada e a Fundação Dom Cabral (FDC) a unirem esforços em prol da cidade-aeroporto, no terminal de Confins.

Kasarda comentou que a cultura de aerotrópolis já deveria ter começado. “Ainda há muito a se fazer, mas tivemos um bom começo. Serviços de acesso, com conectividade do transporte, tornaram a área mais atrativa. Já temos o desenvolvimento da Fashion City e da IAS, especializada em turbinas para aviação militar. A Cidade Administrativa, que emprega 16 mil pessoas, é outro ponto importante”.

Faltam mais voos internacionais, diz o consultor. “Com mais rotas internacionais, toda carga sai de Confins, sem precisar embarcar de São Paulo ou Rio de Janeiro. Voos internacionais reduzem o vazamento da carga, assegurando investimentos no local. São o motor de toda Aerotrópolis”. Acompanhe um trecho de sua entrevista ao repórter Bruno Porto, do jornal ‘Hoje em Dia’.

Bruno Porto – Antigamente, a tendência era construir aeroportos na periferia das cidades. O que mudou no mundo para que se construa uma cidade ao redor do aeroporto?

imageJohn Kasarda – Antigamente se construía um aeroporto longe da zona urbana para que o terminal pudesse se expandir sem causar impacto nas regiões residenciais. O aeroporto servia a cidade, e era visto e usado apenas como terminal de transporte. Nos últimos 20 anos, o aeroporto ganhou outra importância para a economia mundial e transformou-se num imã para as empresas. Atrai investimentos imobiliários porque as pessoas querem morar perto do trabalho. A proximidade é a facilidade, por isso a cidade segue o aeroporto hoje. É o que acontece no mundo todo.

Esse movimento não se assemelha ao que acontecia antigamente, quando a cidade se desenvolvia em torno das estações de trem?

Sim. Historicamente, os centros de transporte eram os catalisadores. Começou com os portos, foi para as estações de trem, rodovias e, agora, os aeroportos. É a quinta onda de desenvolvimento que, embora tenha muita similaridade com as outras, tem um impacto muito maior, por ser uma onda global.

Em que fase de desenvolvimento da aerotrópolis de Belo Horizonte nós estamos atualmente?

Quando comecei, em 2004, o Aeroporto de Confins tinha 300 mil passageiros ao ano (hoje tem 10 milhões). A conectividade era pobre, demorava-se entre uma hora e uma hora e meia para se chegar ao terminal, não existia nada ao redor do aeroporto, o transporte local era pobre. Naquela época, o Aeroporto da Pampulha dominava o transporte aéreo de Belo Horizonte. Na Pampulha, se chegava em 20 minutos, mas é um terminal pequeno, sem possibilidade de expansão e sem potencial econômico. Confins terá três pistas de decolagem. A Gol montou um centro de manutenção responsável por 11 mil empregos, de forma direta ou indireta. Há hotéis com 1.500 leitos, infinitas facilidades.

Em quanto tempo a Aerotrópolis de Belo Horizonte estará madura, em condições de competir mundialmente?

Depende do ambiente econômico, do crescimento da economia e do número de voos, tanto internacionais como domésticos. Quanto mais rápido se conseguir novos voos, mas rápido se atrairá empreendimentos para seu redor.