O mercado aeronáutico brasileiro vem trazendo ótimas perspectivas diante da chegada da regulamentação das aeronaves leves e esportivas, ou LSA, e do projeto IBR 2020. O país, que apenas contava com pequenos fornecedores de kits fabricados no exterior, hoje assiste ao nascimento de inúmeros fabricantes com foco nas inovações tecnológicas e conceituais.
Um desses exemplos é a Inpaer (Indústria Paulista Aeronáutica), fundada em 2002, em Campinas (SP). Seu primeiro modelo desportivo, o Conquest 160, destacou-se em itens como design, conforto e desempenho. Pouco depois, veio o Conquest 180, com a asa semitrapezoidal, permitindo um alcance de 108 nós de cruzeiro.
Rapidamente, a Inpaer atingiria 85 exemplares comercializados, abrindo terreno para o lançamento dos modelos Excel e Explorer (este último com capacidade para quatro ocupantes, motor Lycoming Yio 390, de 210 hp, 128 nós de cruzeiro e alcance de 1.370 km).
A empresa também se tornaria conhecida pela criação de uma célula de sobrevivência em aço inoxidável, presente em todos os seus aviões. Em 2012, a empresa passou por uma grande reformulação, incluindo a transferência de sua sede para São João da Boa Vista (SP), numa área de mais de 5.000 m², e a chegada de novos sócios.
O objetivo principal é transformar a Inpaer em uma indústria de alcance internacional. “Hoje somamos 125 funcionários vindos de empresas como Embraer, FAB e Flyer. Nosso próximo passo é a montagem de oficinas de manutenção, desenvolvendo parcerias em todos os estados brasileiros”, completa Milton Pereira, também presidente da empresa.
Gardini ainda ressalta que a INPAER aparece como única empresa no Brasil a contar com projeto próprio. “Não somos montadoras, que importam kits e apenas montam no país. Somos fabricantes. O projeto é nacional, os engenheiros e profissionais são brasileiros, formados no Brasil. Temos aeronaves 100% nacional. Apenas os aviônicos e motorização são importados.”
Revolução dos anfíbios
Com a maior concentração de água doce do planeta, o Brasil vem ganhando igual destaque como projetista de aviões anfíbios de pequeno porte. A Edra Aeronáutica, com sede em Ipeúna (SP), numa área de 100.000 m², traz, como coqueluche, o biplano Super Petrel LS. Em 2013, a empresa entregou 300 unidades do modelo, junto à sua homologação na FAA (Federal Aviation Administration). Hoje, cerca de 40% de sua frota opera em mais de 23 países, passando por Austrália, EUA, Noruega, República do Congo e Finlândia.
Um dos segredos do sucesso do Super Petrel LS é sua configuração biplano, tipo sesquiplano staggerwing, características ideais para a categoria LSA, como estabilidade, estol suave, decolagem sem necessidade de flaps e boas qualidades para pousos. Outro item importante é a área lateral na traseira da fuselagem, capaz de reduz o efeito de ventos laterais, especialmente em operações mais complexas.
De volta a São João da Boa Vista, na fábrica da Seamax, o projetista Miguel Rosário caminha de chinelos e bermudas, sujo de pó de fuselagem e pedaços de avião a tiracolo. Ele trabalha com sua equipe para entregar as encomendas do anfíbio que projetou a pedido de Armando Nogueira, um dos pioneiros do telejornalismo brasileiro.
O modelo, que leva o nome da empresa, conta com o emprego maciço de materiais compostos, como fibra de carbono e Kevlar (fibra aramida), que proporcionam maior resistência e leveza e melhor aerodinâmica. O perfil da asa foi concebido para a operação anfíbia de alto desempenho, utilizando novas ferramentas de design e projeto.
O modelo ficou famoso no Brasil depois de receber, na Sun‘n Fun 1012, o prêmio “Outstanding Best Commercial S-LSA”, competindo com outras 30 aeronaves produzidas ao redor do mundo. Entre as inovações recentes, há a versão FW, com asas dobráveis.
Pedro Rosas | Portal doaviador