A história do Curso de Aviação Agrícola (CAVAG), desde os pioneiros que, entre 1947 e 1965, voaram adaptando aeronaves e técnicas até o nascimento da regulamentação do setor aeroagrícola, há 50 anos. Este é o resgate histórico feito pelo engenheiro agrônomo Eduardo Cordeiro de Araújo. Entre as informações levantadas por Araújo, ele recorda, por exemplo, que a primeira turma do CAVAG se formou em 1967, na Fazenda Ipanema, em Sorocaba. E que, de lá para cá, foram formados mais de três mil pilotos agrícolas no país. Confira:
O início – o CAVAG no Ministério da Agricultura
Desde o primeiro voo agrícola, realizado em Pelotas, RS, em 1947, até meados de 1965, a aviação agrícola brasileira não contou com nenhuma regulamentação específica, sendo conduzida por um abnegado punhado de pilotos que, adaptando suas aeronaves, passaram a utilizá-las na proteção a lavouras, sendo o Café a principal cultura de então. Datam daquela época as atuações de pilotos agrícolas pioneiros como por exemplo Clóvis Candiota, Orlando Bombini, Ada Rogato, Joaquim Eugênio (o “Joaquim da Broca”), Marcos Vilela e Deodoro Ribas, entre outros.
Data de julho de 1965 – portanto prestes a completar 50 anos – o início da regulamentação formal do setor aeroagrícola em nosso País. Naquele ano, com o assessoramento do então Major Aviador Marialdo Rodrigues Moreira, os Ministros da Aeronáutica e da Agricultura, respectivamente Tenente-Brigadeiro Nelson Freire Lavenére Wanderley e Professor Hugo de Almeida Leme, criaram o Curso de Aviação Agrícola – CAVAG – com o objetivo de capacitar pilotos civis para operações aeroagrícolas.
Em 1966 foi criada, na estrutura do Ministério da Agricultura, a Divisão de Aviação Agrícola (DIAV) que passou a elaborar a política do setor e coordenar suas atividades – CAVAG inclusive. Participação decisiva teve, então o Ten.Cel. Aviador Marialdo Rodrigues Moreira (foto), cedido pelo Ministério da Aeronáutica ao Ministério da Agricultura com o objetivo de organizar e impulsionar a Aviação Agrícola.
O CAVAG, assim como o CEAA (Curso de Executores em Aviação Agrícola) e o CCAA (Curso de Coordenadores em Aviação Agrícola) viriam a ser definitivamente institucionalizados pelo conjunto de Leis e Regulamentos que regem a Aviação Agrícola.
A primeira turma do CAVAG foi constituída por 10 alunos sendo 4 funcionários do Ministério da Agricultura. O I CAVAG teve início em 2 de setembro e terminou em 12 de dezembro de 1967. Os três primeiros – e posteriormente os últimos – CAVAGs foram realizados na “Fazenda Ipanema” (em Sorocaba, hoje Iperó, SP). Participaram daquela primeira turma os seguintes pilotos:
- Ary Flemming
- Deodoro Ribas
- Ewandro Ramos
- Germelino Vicente Gomes
- José Ribeiro de Carvalho
- Lauro Pereira Roque
- Luiz José do Nascimento
- Nilo da Silva Veloso
- Roberto Blanco Filho
- Silvio Anacleto de Souza Bastos
Os aviões
Diversos modelos de aviões foram utilizados pelo CAVAG no Ministério da Agricultura:
- Instrução duplo comando : Piper PA-18
- Instrução de aplicação aérea: Piper PA-25-235 (“Pawnee”)
- Instrução de aplicação aérea : Ipanemas EMB-200, EMB-200A, EMB-201 e EMB-201ª
Os instrutores
Entre outros, destacaram-se como instrutores e/ou coordenadores dos CAVAG do Ministério da Agricultura:
- Instrutores de voo: Cmte. Deodoro Ribas, Cmte. Ernesto Biancardi, Cmte. Penteado, Cmte. Antonio Moretti
- Instrutores de tecnologia / coordenadores: Eng, Agr. José Carlos Christofoletti, Eng. Agr. Wellington Carvalho, Eng. Agr. Monica Sarmento, Eng. Agr. Antonio Moretti
O CAVAG na Iniciativa Privada
Mesmo antes de o Ministério da Agricultura cessar a realização dos CAVAGs, a Iniciativa Privada iniciou a formação de pilotos agrícolas, sob delegação de competência daquele Ministério e sob homologação e fiscalização do Ministério da Aeronáutica, através então do DAC (Departamento de Aviação Civil), hoje ANAC.
É a ANAC quem hoje homologa os cursos, edita e atualiza o “Manual do Curso de Piloto Agrícola”, a ser seguido pelas Escolas, faz a avaliação final dos alunos e concede a habilitação técnica de Piloto Agrícola aos aprovados. O Manual do Curso de Piloto Agrícola, por sua vez, enquadra-se em uma série de dispositivos legais (Leis, Decretos, Portarias, RBACs), descritos na totalidade no item 2.2. do Manual.
Tecnagra – a primera empresa
A primeira empresa privada a obter a delegação de competência do Ministério da Agricultura e a homologação do DAC foi a Tecnagra – Técnica e Expansão Agro Aérea Ltda., cujo diretor, Eng. Agr. Ewaldo Mendes Costa (foto), havia sido Diretor da Divisão de Aviação Agrícola do Ministério da Agricultura (DIAV). Há informações de que o primeiro CAVAG realizado pela Tecnagra teria ocorrido em 1989; ou mesmo antes, porém não foi possível confirmar esta ocorrência nem o número de pilotos eventualmente formados.
Após, em Cachoeira do Sul, entre 1990 e 1992, a Tecnagra realizou três cursos em associação com a Aero Agrícola Santos Dumont, tendo formado naquela cidade um total de 51 pilotos. Foi seu primeiro instrutor o Cmte. José Antonio Cruz. Em 1993, a Tecnagra deslocou-se para Ponta Grossa, ano em que firmou convênio com a Agrovel – Agro Aérea Vila Velha – e com o Aeroclube daquela cidade, resultando na formação de 39 pilotos. Em 1994 e 1995, com novo consórcio estabelecido com a Mirim Aviação Agrícola e com a Universidade Federal, ambas de Pelotas, RS, formou 34 pilotos ( 16 em 1994 e 18 em 1995), em 4 turmas, mas encerrou suas atividades.
Aeroclubes (Porto Alegre e Itápolis)
Localizado na cidade de Porto Alegre, RS, iniciou a formação de pilotos agrícolas em 1994 tendo formado 9 pilotos na primeira turma. Funcionou o CAVAG do Aeroclube até o ano de 1998. No total, o Aeroclube do Rio Grande do Sul formou 16 pilotos agrícolas.
Sediado em Itápolis, SP, o Aeroclube (www.aci.com.br) iniciou a formação de pilotos agrícolas em 1994. No primeiro ano formou 11 alunos. Encerrou o CAVAG em 2005. Desde o início até o encerramento capacitou 209 pilotos agrícolas. Os cursos contaram com a parceria da EJ Aero Agrícola Ltda, também de Itápolis.
Atualmente
Há em funcionamento cinco Escolas de formação de pilotos agrícolas (CAVAG), sob delegação de competência do MAPA e homologação da ANAC :
- Aero Agrícola Santos Dumont Ltda – Localizada em Cachoeira do Sul, RS, a Escola é operada pela empresa de mesmo nome (Aero Agrícola Santos Dumont). Participa da formação de pilotos agrícolas desde julho de 1990, inicialmente em conjunto com a empresa Tecnagra, que detinha então a homologação. Na parceria, foram formados 51 pilotos entre 1990 e 1992. Em 1995, a AASD homologou curso próprio. Desde então, até dezembro de 2014, a AASD informa ter formado 753 pilotos agrícolas, em 67 turmas.
- Aeroclube de Ponta Grossa – com sede em Ponta Grossa, PR, o Aeroclube de Ponta Grossa participa do CAVAG desde 1993, Naquele ano atuou juntamente com as empresas Tecnagra, que detinha a homologação, e Agrovel Agro Aérea Vila Velha. Em 1993 foram formados 39 pilotos (computados na Tecnagra). De 1994 a 2004 o Curso prosseguiu em parceria do Aeroclube com a Agrovel. A partir de 2005 o AECPG deu sequência à formação anual com seu curso homologado. Desde 1994, até dezembro de 2014, o Aeroclube de Ponta Grossa formou 552 pilotos agrícolas.
- EJ Escola de Aeronáutica Civil – estabelecida na cidade de Itápolis, SP, a EJ Escola de Aeronáutica Civil (www.ej.com.br) iniciou a formação de pilotos agrícolas em 2005, tendo formado 17 pilotos na primeira turma. No total, desde aquele início até dezembro de 2014, a EJ comunicou a formação de 224 pilotos agrícolas.
- Aeroclube de Carazinho – sediado na cidade de Carazinho, RS, o Aeroclube de Carazinho (www.aerocarazinho.com.br), iniciou a formação de pilotos agrícolas em 2010 tendo habilitado 13 pilotos na primeira turma. No total, desde aquele início até dezembro de 2014, o Aeroclube de Carazinho formou 126 pilotos agrícolas.
- Aeroclube de Ibitinga – baseado na cidade de Ibitinga, SP, o Aeroclube (www.aeroclubedeibitinga.com.br) iniciou a formação de pilotos agrícolas em julho de 2014, tendo habilitado 6 pilotos na primeira turma. No total, desde aquele início até dezembro de 2014 o CAVAG de Ibitinga formou 23 pilotos agrícolas, em 3 turmas.