A crise passa longe do mercado da aviação. Prova disso é o tradicional Salão Internacional da Aeronáutica de Le Bourget, na periferia de Paris, que abriu as portas nesta segunda-feira (15) com um recorde de participantes vindos de 47 países. As principais construtoras estimam uma demanda ao redor de 35 mil aeronaves para os próximos 20 anos, impulsionada principalmente pelos países emergentes.
A Airbus anunciou nesta segunda-feira uma previsão de crescimento de 4% ao ano para o mercado mundial nas próximas duas décadas – estimativa bastante próxima da que foi feita pela Boeing e divulgada na semana passada. Os países emergentes devem crescer a uma taxa ainda maior, 5,8% ao ano, contra 3,8% da Europa e dos Estados Unidos. A entrada no mercado de um grande contingente de classe média, principalmente na China, é apontada como a principal causa.
O salão de Le Bourget é oportunidade para gigantes da indústria da avião civil e militar, como Boeing, AirBus e Dassault, mostrarem seus últimos lançamentos e disputarem contratos de bilhões de euros.
Pascal Pincemin, diretor de uma destas empresas, a Deloite, diz que, diante de um mercado tão aquecido, o principal desafio é conseguir dar conta de tantas encomendas: “Estamos em um período bem vasto, com perspectiva de crescimento a longo prazo de 5% a 6%. A grande questão agora é como vamos entregar os 35 mil aviões que deverão ser fabricados nos próximos anos”.
Presença russa modesta
Para Pincemin, a alta demanda se dá em função de dois fatores: o aumento do tráfego, principalmente em países emergentes, mas também pela substituição da frota existente, que está ou se tornará obsoleta em breve, graças à rápida evolução tecnológica do setor.
A grande questão política do salão de Le Bourget deste ano é a presença russa, que será mais modesta do que a habitual, por causa do momento de crise nas relações entre Rússia e União Europeia, gerada pelo conflito na Ucrânia.
Empresários franceses lembram que, nem nos piores momentos da Guerra Fria, a Rússia deixou de participar do Salão. “A política passa, as empresas ficam”, lembrou um empresário à RFI. Por sua vez, a Anistia Internacional francesa critica a presença russa já que, desde julho de 2014, os países europeus estão impedidos por um embargo de vender armas ao país de Vladimir Putin.