“No auge da crise que levou ao fim da Varig, em 2006, decidi entrevistar vários protagonistas dessa história antes que eles desaparecessem de cena. Essas entrevistas, aliadas a documentos e mais de 300 depoimentos de empregados da empresa, descortinaram uma trama contra a Varig que envolveu credores, o governo Lula da Silva, funcionários da empresa e até algumas forças inesperadas como sindicatos e associações de pilotos e comissários, que tinham relações secretas com consultorias de negócios e candidatos a controladores da empresa”, assinala Levy.
Segundo o autor, que além de jornalista é professor de cultura organizacional em universidades como Metodista e Senac, a pesquisa evidenciou a ação de credores como General Electric e Unibanco que favoreceram outros negócios, inclusive com concorrentes, enquanto atuavam no conselho de administração da Varig:
“A GE tinha, e provavelmente ainda tem, participação na GOL em um momento em que tomava decisões na Varig. Algumas dessas decisões visavam claramente a falência da empresa como, por exemplo, o voto contrário ao plano de recuperação apresentado pela Justiça em julho de 2006. Outro exemplo gritante de um credor que tramou contra a Varig é o do Unibanco. Com representantes no conselho de administração da empresa, o Unibanco vetou a devolução de aviões da Embraer, necessária para cortar custos, pelo simples fato de que o banco estava distribuindo ações da fabricante de aviões no mesmo momento e não desejava ver o valor dessas ações caírem. Essas atividades mostraram claramente que alguns credores, que tomavam decisões na Varig, agiram contra os interesses da empresa para defender outros negócios. Há graves implicações éticas dessas decisões, uma vez que o fim da Varig levou à perda do fundo de pensão de milhares de aposentados da empresa”, explica Levy.
Governo Lula – A pesquisa do jornalista trouxe à luz, também, a ação do Governo Lula visando a fusão forçada entre a Varig e a TAM, já a partir de 2003, proposta por ninguém menos do que o Ministro da Casa Civil à época, José Dirceu:
“A fusão entre Varig e TAM era defendida pelo Dirceu, mas atacada por todos os sindicatos ligados à base de sustentação do governo. É importante lembrar que a TAM, em 2002, tinha sido a empresa que mais recursos havia doado para a campanha vitoriosa de Lula da Silva ao governo. No entanto, quando muitos achavam que Dirceu defendia a fusão para recompensar o apoio da TAM, a verdade era mais complexa: Dirceu tramava a criação de uma super companhia aérea, uma campeã do setor aéreo, que teria controle paraestatal, assim como vários outros negócios que vimos acontecer no país como JBS, a fusão Sadia e Perdigão e a fusão BrT e Oi, todas elas empresas privadas, mas com controle estatal em função de investimentos do BNDES e fundos de pensão como PREVI e PETROS”, explica Levy.
O livro “Os abutres e a Varig” foi lançado pela editora e-Press no formato de e-Book e paperback (impressão sob demanda) no site da Amazon, no endereço http://amzn.com/1502539888. São 313 páginas onde o autor vai revelando, passo a passo, o que disseram cada um dos entrevistados, acrescentando dados, documentos e detalhes de bastidores que ajudam o leitor a compreender como, no Brasil, os interesses de grupos sempre prevalecem sobre os interesses da sociedade.
Entre os entrevistados estão Ozires Silva, fundador da Embraer, que presidiu a Varig em 2007; Yutaka Imagawa, presidente da Varig, que lutou contra os credores no conselho de administração; Alexandre Silva, ex-presidente da GE Brasil; Rubel Thomas, o último presidente da Varig que também era presidente da Fundação Ruben Berta e do conselho de administração; Arnim Lore, um dos representantes do Unibanco; David Zylbersztajn, ex-presidente da ANP na gestão de FHC; e até o empresário Nelson Tanure, controlados da Cia Docas e do Jornal do Brasil.